A a Z

domingo, julho 02, 2006

Fuga


A mulher que vive no poço emprestou-me
o seu corpo nocturno no espelho do sonho. Tem
os traços pálidos da água negra, e os olhos
transparentes de uma ausência de luz.
As suas mãos são frias quando as toco;
e os cabelos derramam-se pelo peito,
escondendo os ombros onde murcharam
as flores da manhã. A sua voz, porém,
tem a frescura de um desejo de sol;
e o seu rosto liberta-se da solidão
dos abismos, com a dureza do âmbar
que dá cor aos seus lábios.