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quarta-feira, novembro 15, 2006

Natureza morta com fruta

Depois de um dia de chuva arrumo,
no prato do poema, as peras
que saíram da cabeça de uma nuvem,
com um sumo de névoa e caroços
frios como os astros do inverno. Sento-me
em frente da mesa, e outras
nuvens descem do céu para esta
refeição de fruta. Peço-lhes que cortem
as peras com uma faca de granizo;
mas elas cobrem-nas de neve,
como se as quisessem levar a
uma comunhão de domingo. Resta-me,
então, esperar pela primavera; e ver
sair destas peras um ramo de nuvens
brancas, que ponho no céu
onde os pássaros o esperam,
para terem onde pousar.