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segunda-feira, junho 12, 2006

Vénus

Bouguereau

Puseram-lhe o corpo numa concha de fogo.
As algas envolveram-na com a mortalha
negra do oceano. A combustão fez-se
na cama de sonho em que passou a noite.

Um dia, um pescador encheu o seu balde
com as conchas apanhadas na praia, num intervalo
da maré. Pedi-lhe que não as abrisse; mas
ele disse-me que era tarde para evitar a refeição.

Abrimos as conchas, uma a uma; e o corpo
primaveril renasceu de dentro da água, como se
a vida ainda o contaminasse, e um sulco de alga
não cortasse os seios em que tantos lábios pousaram.