Balanço
Sentei-me à tua frente à espera
de te ouvir falar no branco que vem da janela,
e te envolve com o calor húmido de
uma palavra divina. Mas abriste
o leque, dizendo que é tarde para discutir
oráculos. Aceitei a tua resposta, como
se me dissesses que as interrogações podem esperar
por amanhã. No fundo, mostravas apenas
o movimento exacto da tua mão, segurando o eixo
do teu pequeno mundo; e tudo o que acontecia
limitava-se ao teu gesto. Agarrei as formas e as cores
desse pedaço trémulo de vida no ângulo
que o teu corpo formou com a luz; e segui o declinar
das pálpebras que o amor me oferecia, sabendo
que a usura do silêncio corresponde ao instante
em que os olhos se prendem, como astros
na declinação de um horóscopo.
<< Home