Retrato de Z. Minderowa
A alça descaída deixa o ombro a descoberto,
como a paisagem saída da névoa matinal;
e o lenço que a mão prende, entre o médio
e o anelar, esboça uma despedida, que
se adivinha na resignação do rosto. Não
sei o que se passa por dentro da sua cabeça,
que abstracto piano a faz sonhar, ou que
imagem longínqua a leva para fora da
sala. Uma simetria de pavões veste-a
de artifício; e o vestido negro trans-
forma-a em ave nocturna, voando num
círculo de pensamentos que roda nos seus
olhos, como o astro alucinado de uma extinta
galáxia. Pergunto-lhe se quer dançar? E
ela não responde, ou não ouve, enquanto
as sombras a espreitam de um fundo de
cortinados, pedindo-lhe o dom de um olhar.
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