Pérola
Deita-se na sua concha; olha
o branco das gaivotas; despe
de espuma as ondas que
a procuram. Nos seus olhos
não entram a noite
e o medo. Transforma-se
devagar, sem ouvir o
canto dos oráculos, nem
a música dos sábios. Sente
cada pedaço da sua pele quando
as mãos da água lhe tocam;
e abre-se a um desejo de azul,
a um abandono de areal
na maré baixa do sonho. Os pescadores
de pérolas procuram-na
em cada refluxo de sombra;
os amantes empurram os juncos
da loucura para a fazer sair
do seu sono. E ela ri-se,
numa oferta de fogo, para que
os nómadas encontrem nas dunas
do seu corpo um repouso de viagem.
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