Mulher com chapéu de chuva
O que é certo é que as linhas que os Mestres
ousaram, anos e séculos a fio, pouco
mudaram, mesmo quando o seu caminho
foi diverso, e diversas as mulheres que
os inspiraram. Há uma procura
da perfeição que surge, num ou noutro
momento, e neste ou naquele rosto,
quando a imagem se define. Por vezes,
porém, há sinais de indecisão, ou uma
simples dúvida no encaminhar da mão
para aqui ou para ali. Logo, porém,
as coisas retomam o seu curso; e nesta
figura de jovem, junto ao mar, num
dia de sol, todas as interrogações
têm uma resposta. Não sei o que ela
pretende quando a sua mão segura
o chapéu: pode estar a ver alguém
que se aproxima, ou apenas a segurá-lo,
nesse dia em que o vento sopra com
força. A outra mão, porém, apoia-se
ao chapéu de chuva, que ela usa naquele
dia para se proteger do sol, embora não
se saiba para que precisa ela de um
chapéu na cabeça e outro na mão. Ou
será isto um resultado da angústia
de quem a viu, e pretendeu retratá-la
para todas as ocasiões, pensando que
o mar é imprevisível, e o céu limpo
a cada instante pode mudar? Mas o que vejo,
seguindo a direcção dos seus olhos,
é esse limite para além do horizonte
em que ela se detém, sabendo que a
única saída que lhe resta é tirar a mão
da cabeça, abrir o chapéu de chuva, e
abrigar-se não do sol, mas de quem a olha.
<< Home