À varanda
A miss inglesa, que talvez fosse francesa, ouviu
a campainha tocar quando estava pronta para sair,
e perdeu a vontade de passear quando percebeu
que tinha de abrir. Quem estava à porta queria
saber se ela estava em casa, mas ela falou em
espanhol (não porque fosse espanhola, mas foi
a língua que lhe ocorreu). Do outro lado, a
decepção. Era o que ela queria. Bilingue, tri-
lingue, esta miss tira as línguas do chapéu,
como se fossem flores, e dá-lhes um arranjo
no ramo da frase, para as pôr ao sol. Se quem
tocou à campainha fosse espanhol, a frase
teria murchado; mas sem resposta, a miss
voltou a fechar a porta e pôs a pose de quem
não precisa já de sair porque acabou de
entrar, ou então, o que é melhor, de quem
vai entrar para voltar a sair. De facto, o
melhor lugar para ela estar é um átrio de
hotel, onde se cruzam todas as línguas, que
ela apanha enquanto anda, com o chapéu
bem pousado na cabeça, para que ninguém saiba
se ela está a entrar ou se vai sair, a
não ser o homem da recepção que tem a impressão
que já a viu, quando ela lhe diz que não.
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