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terça-feira, junho 20, 2006

A chávena de chá

André Derain

Não sei se já puseste o açúcar; nem se
o teu espírito se perdeu no fumo que saía,
há pouco, desse bule onde o chá assenta
com a tarde. Falámos de regiões antigas;
e o livro que abriste, ao acaso, indica
esses mapas de províncias onde nunca
nos iremos perder. Mas os teus olhos
que traçam a única fronteira desta
viagem, dão-me o passaporte de que
preciso. Atravessarei a terra de ninguém
da tua tristeza; e cortarei a erva melancólica
que cresce nas tuas palavras, para que
um outro campo se ilumine sob o sol
da manhã. Tu, porém, esperas que
o chá arrefeça; e pensas na tua vida
que se tornou uma sala de espera,
ouvindo bater o coração do mundo.