Arrufos
A rosa caída não respira, como um pássaro
morto; e o seu corpo, estendido na cama,
esgota o pranto da tarde, como se todas
as sombras do dia se juntassem à sua
volta. Poderia estender a mão, e apanhar
a flor; mas receia que outra mão se
interponha entre ela e a rosa, e a puxe
para o reino em que nenhum pássaro canta.
Por vezes, um soluço agita-lhe o ombro;
e é o seu único movimento, como
se não tivesse força para se erguer,
puxar os cabelos para trás da cabeça,
e olhar o vazio, onde se esconde
o destino que a assombra. «Pode ser
o destino da rosa», digo-lhe; e cito
Ronsard, para que ela me ouça, e siga
o rumo do pássaro, o que voou junto
à janela, e preferiu subir até ao azul
a entrar no mundo que não lhe pertence.
Mas permanece deitada, e fez desta
cama o seu ninho, como se pudesse nascer
daí para uma outra vida, ou uma outra rosa.
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