Cassandra
Sonhou ler o destino; e desejou nunca
o ter feito. Deixou de olhar para os homens,
quando adivinhou a sua morte; e desafiou
o céu, quando descobriu que nada existe
para além do azul. Percebo, pela
contracção da sua coxa, que esboça
o desejo de se erguer; mas os braços
caem para trás das costas,
como se não tivesse já para
onde ir. No entanto, o fogo
que arde no altar ilumina-lhe
o rosto, condenando-a a ver
tudo o que acontece: os incêndios
que devastam a terra, um massacre
de mulheres, a inutilidade
das súplicas. E entrega-se a todos
os que passam à sua frente,
pedindo-lhes que apaguem a chama
para que um manto de treva
lhe cubra o corpo.
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