Jovem mulher de casaco vermelho
Indiferente aos livros pousados na mesa,
o olhar dirige-se para onde ninguém sabe -
a não ser que se olhe para o espelho, atrás
dela, onde se vê um retrato, junto à janela.
Será isso que ela fita? Mas a mão abandonada
sobre a saia cumpre o ritual de nos obrigar
a esquecer o pé, que quase toca o pé da
cadeira, e que nos convida a subir até
ao colarinho, apertado com o rigor onde
se adivinha um recato que, no entanto,
o canto dos lábios contradiz. Ah, pudessem
outras mãos desapertar o laço que lhe prende
os cabelos, e fazê-los caírem sobre o rosto,
escondendo os olhos, como no instante em
que desperta, ainda ébria da noite, e a
luz que entra pelas frinchas do quarto
a obriga a cerrar as pálpebras. Depois,
abrindo as cortinas, ela surgiria à nossa
vista, para que a luz da manhã a cubra
com o lençol transparente do seu húmido
fogo. E os livros continuariam na mesa,
inúteis, enquanto ela se levanta, e
faz dançar literatura e vida.
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