Sobreimpressão
Tenho de começar a pensar na paisagem que
nasce dos olhos, quando se dirigem para esse ponto vago
em que os pássaros parecem voar dentro deles,
e não no próprio céu a que pertencem. O vento
nos cabelos, porém, afasta-me deste princípio
lógico; e sigo a sua direcção, que acaba nos dedos
que contam a distância a que estamos,
a partir de uma tabuada que não tem fim. E
acendo um cigarro, para que o fumo envolva
o rosto num pressentimento de vida,
fazendo com as palavras pareçam sair
dos lábios que, no entanto, permanecem
fechados. E este perfil é tudo o que me resta
para imaginar o corpo amado, como se
ele fosse uma frase - feita a partir de
fragmentos, alinhados na mesa da estrofe,
numa atmosfera de silêncio.
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