Natureza morta com Juízo Final
Gosto de ir à praça, escolher o peixe,
como se estivesse no lugar do arcanjo
que separa as almas entre as boas e
as más. Mas quem põe o peixe na balança
é a mulher da praça; e não há nenhum
juízo de valor no seu gesto, nem
executa nenhuma sentença quando,
depois de lhe cortar a goela e de
lhe arrancar as entranhas, começa
a escamar o peixe, para o meter
no saco. Então, um vago sentimento
de culpa faz-me pensar que poderia
estar eu nas suas mãos; e enquanto
espero que acabe o seu trabalho, prefiro
olhar para o lado da fruta, onde
a natureza se rege por outras leis.
<< Home