Natureza morta com ramo de flores, cesta de fruta e garrafa de vinho
Quantas vezes, à tarde, ouvindo o vento
que passa por entre as telhas, e sabendo que há
uma fatalidade que se oculta nas nuvens
brancas do verão, contei as horas
num exercício de matemática que me serviu para
separar o instante e a eternidade. No entanto,
ao ver as flores que alguém dispôs numa jarra,
deixei de precisar dessas contas. Na sua beleza,
o instante concentra a arte mais perfeita
do tempo, que consiste em mostrar
como se fosse eterno o que, em breve,
cairá por terra. E se não preciso de pensar
muito naquilo que é evidente, é porque
o outono me dá outra certeza, quando colho
os frutos dos ramos que se estendem pelo
campo da memória, e os ponho na cesta de onde,
um dia, os irei tirar para saber, exactamente,
a que árvore pertence a tua imagem.
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