Mãos postas
Entrega-se ao dia que nasce, ouvindo
as aves que emergem da névoa com o seu canto;
e a maré de sensações que acompanha
a madrugada sobe pelo seu corpo,
submergindo o lodo dos sonhos
com a espuma luminosa do primeiro
sol. Mas reza ainda ao deus
que se perdeu na areia solitária
do tempo; e as suas pálpebras caídas
guardam as imagens que pertencem
à noite, como se precisasse delas,
ou como se esperasse que alguém abra
a janela, e lhe diga ao ouvido
as palavras limpas da bruma matinal,
libertando-lhe as mãos para o tecido
do amor.
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