Nu com natureza morta
Ao pousar a cabeça no braço,
em cima da mesa, como se te esquecesses
do mundo, deixando um espaço entre ti
e o prato de fruta, lembras-me que
existe um centro, algures, onde
os movimentos de rotação da vida e
dos sentimentos se decidem. Por
vezes, vão em sentidos contrários; e
talvez seja nisso que pensas,
enquanto a tarde não acaba, e te
obriga a sair da mesa para te
vestires. Mas na sala deserta ficará
o prato, com a fruta intacta; e
ao pegar na laranja que não
quiseste, sinto um sumo de palavras
escorrer-me por entre os dedos,
como se a tua voz habitasse
este vazio.
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