A um sorriso
A minha dúvida é olhar-te, ou
olhar para a tua imagem no espelho; e não sei
se escolherei a mulher real, que pousa
os braços no móvel enquanto espera que
lhe tirem o retrato, ou essa que o espelho
reflecte, e ali irá ficar, muito depois
de te ires embora, cansada da pose a
que o fotógrafo te obrigou. É que a mulher
do espelho é aquela que habita um espaço
que não tem tempo nem mundo; a que vive
enquanto a luz o permitir; e quando a sala
ficar às escuras, mantém a vigília de uma
eterna insónia. E vejo-te em todos os espelhos,
a sombra de quem por eles passou, para
que o efémero permaneça, e o teu sorriso
não desapareça.
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