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terça-feira, fevereiro 19, 2008

Romanceiro apócrifo

Aqui está a nau catrineta que à praia veio dar;
traz na proa um cometa para a noite iluminar.
Não foi um ano nem um dia que andou neste mar,
um ano esteve parada, só num dia foi navegar.
Como foi ao fundo conta quem sabe,
tinha peso a mais, grita o capitão Achab.
Jogam uns às cartas, tira outro a má sorte;
apanhou-a o temporal, foi ter com ela a morte.
Mas o mar não foi tão fundo que nele se afundasse,
foi dar o casco à praia, para que alguém a encontrasse.
Uma menina deu com ela, com o barquinho real,
outra menina a segurou, e a prendeu afinal.
Apodrece agora esta nau, sem ter mastros nem ter velas,
e são estas meninas as suas últimas sentinelas.
Já nem riem nem choram as meninas de além-mar,
desenham barcos na areia, só o que sabem é desenhar.
Veio o diabo ao seu encontro para com elas atentar,
dizem-lhe elas vai-te embora, te queremos arrenegar.
Foge o diabo como da cruz, leva com ele o temporal,
e nesta areia o que fica são as naus de Portugal.