Sónia de meias brancas
Ei-la, surgindo de um rebordo de cadeira,
como se fosse a onda que brota da mais nua
madrugada, ou lua despertando de um sonho
de salgema. De que navio afundado
foi a figura de proa? Em que brando rochedo
soltou o seu canto de sereia? Colho o fogo
ruivo dos seus cabelos; e desfaço-os,
para ninho de floridas serpentes, ou
ramo de pássaros com asas de algas. E
ela envolve de perfume o horizonte
dos seus braços, imóvel como o círculo
que o seu rosto desenha. Um dia, vê-la-eis
desaguar num frémito de estuário;
e a sua boca abrir-se-á num murmúrio
de maresia, oferecendo ao sol
a fria falésia do seu corpo.
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