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sexta-feira, maio 12, 2006

No atelier

Akseli Gallen-Kallela (1865-1931)

Quando a modelo se sentou no sofá, e me pediu que lhe
acendesse o cigarro, disse-lhe que as leis mais recentes
impedem o fumo nos locais de trabalho. Ela disse-me que
assim não trabalhava; e como a greve nos libertava de
preocupações quanto a essa, e a todas as outras
imposições legais, fizemos a revolução. Enquanto ela fumava,
abri uma garrafa de whisky e servi-me; ela estendia-se
no sofá, como se fosse dela, e oferecia a sua pose
para que a retratassem, sem mais nada, para uma eternidade
de que fosse o único e absoluto centro. Foi então
que pensei no que estava a fazer: se o momento era de
pose, a modelo estava a furar a sua própria greve,
e voltava a não ser possível fumar porque estávamos
de novo num local de trabalho. E eu próprio, nessa
situação, também não podia acabar o meu uísque.«E
se te vestisses?» perguntei-lhe. Ela riu-se: «Estou
no meu fato de trabalho.» E inclinava-se cada vez
mais no sofá. O que se passou depois, não sei se por
causa do fumo se por causa do uísque, não o sei contar;
e se o soubesse, também não o contava, para que
ela não voltasse a fazer greve, e eu a revolução.