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terça-feira, junho 27, 2006

O Verão

Gustave van de Woestijne
No entanto, a mesa nem sempre esteve vazia;
e na grande toalha do Verão as criadas dispunham
os pratos e os talheres, à espera que os convidados
se sentassem para os longos almoços em que
as conversas se transformavam na única forma
de passar o dia, como se o sol não convidasse
para o campo. Mas era como se não existisse
outra vida; e só quando a tarde começava
a impor as suas sombras os convivas começavam
a sair, um atrás do outro, levando não se sabe
o quê - pedaços de frases, memórias de olhares,
bilhetes em que se jurava o que nunca se iria
cumprir. Só tu ficavas, no teu lugar, sem ninguém
para te dizer o que desejavas ouvir, e com
todas as promessas guardadas num bolso
de silêncio. Porém, as uvas continuaram
sobre a mesa; e o sabor dos teus lábios
permanece no seu mosto, quando levo o copo
à boca, e a tua imagem fermenta no vinho do ocaso.