Pássaros
Há pássaros que querem levantar voo,
e não conseguem. Não estão presos,
o céu está livre, nada os impede de voar.
Mas ficam parados, como se não tivessem
asas, ou a terra os hipnotizasse. Não
precisam de gaiola; podemos abrir
portas e janelas: o seu lugar é onde
estão, e hão-de ficar. Mas os dedos
que tocam o seu corpo frágil
sentem uma hesitação; e os olhos
que os fixam adivinham o desejo
de se libertarem. Porém, estão
imóveis. São os pássaros que
não conhecem outono nem inverno,
os que não sabem para que lado fica
o horizonte, os que nunca roçaram
o dorso das nuvens. Tenho estes
pássaros na cabeça; e mesmo
quando lhes abro o campo do
poema, não saem de dentro de mim,
ensinando-me o seu canto.
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