Retrato de interior
Há duas coisas que se podem ver
no teu rosto: a atenção com que olhas
para a mesa que não estou a ver; e
a luz que se concentra nele, e
se afasta do canto para onde olhas.
Entre essas duas coisas, a tua vida
deixa de ter importância, como
se não houvesse substância para
além do que vês, e se resume ao
instante em que os teus dedos se
preparam para o desenho. No
entanto, há gente do outro lado
da janela, embora não saibas que
estás a ser vista. E eu próprio, que
estou à tua frente, começo a não
saber se é para mim que estás
a olhar, ou se é para o fundo do
teu quarto; e nessa hesitação,
poderia puxar-te para o corredor, e
levar-te até à porta da rua, onde
te poderias libertar da tela, e
ir comigo ao encontro do sol.
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