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quarta-feira, maio 16, 2007

Noite branca


Num velho século, espreitei o tempo
pela fresta da noite. Havia um lenço
onde se guardavam as lágrimas
da véspera; havia um colar no colo
da memória; havia um laço apertado
pelos dedos da manhã. Num velho
século falei com as paredes, ouvindo
as vozes que me respondiam de
trás dos muros. Eram ombros que
fugiam numa esquina de corredor;
eram braços que se levantavam do
outro lado das cortinas; eram sombras
debruçadas num eco de sofá. Num
velho século limpei o pó das idades,
e vi as lágrimas secarem no lenço, o colar
cair-te sobre o vestido, o laço desapertar-se
pela força do desejo, como se as sombras
tivessem desaparecido à tua volta,
e as flores renascessem das tuas mãos.