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quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Romanceiro apócrifo



Que faz a bela infanta do seu cabelo despenteado?

Passam os caçadores com os cães açaimados,

correm os cavaleiros com o rei ao seu lado;

e não os vê a infanta, nem lhes ouve os seus brados.

Podia já ser dia e fazer ela a sua vontade,

mas no quarto onde está é sempre noite escura.

Voltam os caçadores trazendo a sua metade,

sobe o rei ao trono com a sua lei mais dura.

Não adormece a infanta nem acorda do sono.

Um cavaleiro perdeu-se na volta do caminho,

cruzou-se com o mendigo na terra do abandono,

comem juntos o pão, bebem ambos o mesmo vinho.

Canta a bela infanta um romance esquecido.

Sobe à torre o cavaleiro, fecha-lhe a porta o mendigo,

não mais dali sairá que a chave tem perdido,

para sempre ali ficou fechado só consigo.

Cavalga longe a infanta como se o fosse procurar.

Passa-lhe o mendigo à porta, ninguém o vem receber,

não ouves bela infanta que já te estou a chamar,

vem abrir-me a porta, ouvir o que te vou dizer.

Nem a infanta o ouve, nem está vivo o cavaleiro.

Com a esmola de uns cabelos foi-se o mendigo embora,

ninguém ouviu o que dizia, ficou mudo o mensageiro,

chama-se hoje àquela torre a velha torre da má hora.