Romanceiro apócrifo
Que faz a bela infanta do seu cabelo despenteado?
Passam os caçadores com os cães açaimados,
correm os cavaleiros com o rei ao seu lado;
e não os vê a infanta, nem lhes ouve os seus brados.
Podia já ser dia e fazer ela a sua vontade,
mas no quarto onde está é sempre noite escura.
Voltam os caçadores trazendo a sua metade,
sobe o rei ao trono com a sua lei mais dura.
Não adormece a infanta nem acorda do sono.
Um cavaleiro perdeu-se na volta do caminho,
cruzou-se com o mendigo na terra do abandono,
comem juntos o pão, bebem ambos o mesmo vinho.
Canta a bela infanta um romance esquecido.
Sobe à torre o cavaleiro, fecha-lhe a porta o mendigo,
não mais dali sairá que a chave tem perdido,
para sempre ali ficou fechado só consigo.
Cavalga longe a infanta como se o fosse procurar.
Passa-lhe o mendigo à porta, ninguém o vem receber,
não ouves bela infanta que já te estou a chamar,
vem abrir-me a porta, ouvir o que te vou dizer.
Nem a infanta o ouve, nem está vivo o cavaleiro.
Com a esmola de uns cabelos foi-se o mendigo embora,
ninguém ouviu o que dizia, ficou mudo o mensageiro,
chama-se hoje àquela torre a velha torre da má hora.
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