Romanceiro apócrifo
Andava silvana num corredor de ouro
tocando a viola que o pajem guardava.
Ninguém a ouvia, nem cristão nem mouro,
só o pajem a seguia por onde ela andava.
- «Não toques mais silvana, é de prata a viola,
foi um diabo que a fez, outro diabo a afinou.»
- «Não te cales ó pajem, é esta música uma esmola,
foi um diabo que a deu, outro diabo a cantou.»
A caminho do inferno perdeu-se a silvana,
não a encontra o pajem, não sabe por onde vai.
Sobe à janela o pajem, espreita pela ventana,
sobe tão alto que não desce, quando desce é porque cai.
Morre o pajem neste chão, dele cresce um silvado,
senta-se silvana junto dele, sem saber onde está.
E quando o vento se levanta, de um e outro lado,
faz ouvir o que ele dizia, para que ela chore ali já.
- «Um diabo o trouxe, e outro o levou,
uma mãe o pariu, e outra o enterrou.»
E sete anos espera silvana, perdida nesse arbusto,
sem mal que não lhe chegue, e bem que não tenha custo.
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