A a Z

sexta-feira, abril 04, 2008

Na margem de um retrato


Às vezes, há nestes olhos uma melancolia
que não sei explicar, como se um reflexo de tarde
se sobrepusesse à luz que as palavras lhes
emprestam. Derramo as cores da manhã
sobre o rosto, para que o céu se abra na sua
alma; mas um resto de tintas nocturnas
mancha-o, ainda, enquanto o tempo corre
nas águas do rio invisível que
a sua boca silencia.
Posso dizer, no entanto, que
as linhas do desenho que a envolve
são nítidas, e me obrigam a usar um verso
claro como o branco da sua imaginação. Assim,
as coisas do poema coincidem com a
realidade que o alimenta, e transformam
o que parece abstracto num sentimento
concreto como o sentido da frase.
Mas o que ela diz pertence ao seu
mundo; e o rio pára, para que um reflexo
natural sirva de cenário ao que
nunca saberei da sua vida.