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sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Desembarque


E depois vieram as ondas, com a sua
imprecisão de espuma, desenhando o perfil
branco do horizonte contra a sombra
do farol.

E depois vieram os barcos, com as
suas tripulações de mortos, desembarcando
os marinheiros que dormiam num eco
de porões.

E depois vieram os homens que encheram
o molhe, espreitando para dentro de uma
memória de viagens, em busca de um porto
esquecido.

Por que não rebentaram estas ondas? Por
que não naufragaram estes barcos? Por
que não ficaram estes homens num canto
das suas casas?

Cubro-os com o nevoeiro do poema, deixando
que o farol solte o seu uivo sobre o ruído das
ondas, a calma dos convés, o silêncio
dos homens.