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segunda-feira, abril 07, 2008

Visita

Foi nos salões antigos onde se tomava chá
a horas certas que as flores encheram a sala
de perfume; e as mulheres pálidas desmaiaram
no espelho que já não guarda os seus reflexos,
por entre os quadros que enchem as
paredes que o tempo esburacou. Pergunto-lhes
o que fazem ali, ainda, sombras sem o eco
de uma vida; e elas dizem-me que respiram
os sais do passado, e recuperam o ânimo
para sair de casa, em busca de um jardim
com sol. Peço-lhes que olhem para a
objectiva: e tiro-lhes o retrato que as fixa,
distraídas da morte que as levou, para que
os seus lábios não percam as frases inúteis
das tardes de salão. As flores murcharam;
a janela do fundo já não tem vidros; e
os espelhos andam pelas feiras do ladra, sem
ninguém que os compre. Mas elas falam,
como se o seu mundo não tivesse desaparecido,
e esperam pelo chá que nenhuma criada lhes
vai trazer numa travessa de esquecimento.