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quinta-feira, maio 11, 2006

O espelho

Gustave de Jonghe


Entre ti e a mulher do espelho abro a porta
por onde entram os sonhos. Não sei, de facto,
para quem olhas, ou se é essa que está à tua
frente (qual delas?) que te coloca a pergunta
a que terás de responder. E se um vento
interior percorre a tua alma, sacudindo
as emoções como se fossem arbustos,
peço-te que os teus lábios não deixem
transparecer a inquietação. Fecha os olhos,
liberta-te de ti, e sai do espelho,
deixando o vestido para trás. Verás
os sonhos caírem no chão, como cada
peça que fores tirando; e o sol virá
cobrir-te com o seu linho de brilho
transparente, para que um rio de luz
volte a correr pelo teu rosto.