A a Z

terça-feira, junho 27, 2006

Interior com figura

Clarence Hudson White
É no lugar da janela que o quadro ganha
outra dimensão, não sei se por causa da luz que
entra na sala, através da cortina, se pela
posição do braço, caído ao longo do corpo, mas
mantendo um pouco de energia - a suficiente
para manter o equilíbrio. Mas não estou
a falar do modo como ela está sentada
na cadeira; o que daqui ressalta, antes
pelo contrário, é a convicção do olhar,
fixo no dia que se adivinha do outro lado
da janela, e que a puxa para o exterior,
como se ela estivesse entre o dentro e o fora,
numa indecisão que só o espírito resolve,
quando pensa nas plantas secas nos vasos,
e sonha com a primavera que se anuncia. Por
isso, espero que a imagem se anime,
de súbito, e a figura da mulher sentada
se dirija para a porta, e saia para o quintal
da casa, onde flores e arbustos se confundem,
por entre a erva que ninguém cortou,
ao contrário da sua vida.