Reflexo
Sem nada para fazer, olha-se no espelho
do quadro, procurando uma resposta. Ou
será o contrário, sendo ela uma projecção
da sua própria imagem? No fundo, é o movimento
do olhar que vai de uma para outra que
impede uma certeza: se é no horizonte do quadro, de cuja
perspectiva ela faz parte, que se encontra a realidade,
ou se é no pensamento da mulher
que vê o seu reflexo que o mundo se descobre,
para que ambas se reconheçam a mesma? Olho-as:
e também eu não sei a que espaço pertenço,
quando a janela está aberta, e a luz que entra
me empurra para fora, onde uma primavera
é possível. Elas, no entanto, não querem saber
disto; e é como se a mulher que se ajoelha,
na cadeira, esperasse o milagre que a faça
sair do quadro, e avançar pelo dia,
como a luz avança pela sala onde nada acontece,
a não ser este olhar que as prende uma
à outra, e me deixa de fora.
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