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sexta-feira, maio 12, 2006

Banhista de costas limpando-se com toalha

Félix Valloton

Adapta-se à paisagem como se fizesse parte dela,
pedaço de natureza, ou simples pormenor de
litoral. Também podia ser uma gaivota em busca
de repouso, esculpida pelas mãos de um deus
provisório. Ou uma sereia transformada em
mulher, num afloramento líquido por entre
rochedos invisíveis. À sua frente, o mar
oferece-lhe o abrigo do seu abismo; mas
ela hesita em avançar, esperando que
a maré se torne propícia, ou que o sol atinja
o zénite para que os seus cabelos fiquem
no ponto exacto de um prumo de luz. E
o seu corpo brilha quando ela o limpa
de sombras, oferecendo-se ao vento que
a empurra para o horizonte, como se fosse
um barco de velas desfraldadas, sem
outro destino para além do coração do dia.