A mulher do cravo
Há uma dúvida na sua imagem, que
vem da música que lhe cai sobre os ombros,
e se derrama pelo vestido, espalhando-se
pelo chão onde cada som se perde no
envernizado da madeira. Que flor
é essa que segura nos dedos, como se
a tivesse acabado de colher? De quem a recebeu,
ou a quem a destina, agora que uma porta
se entreabriu e o ar fresco da manhã entra
pela sala, convidando-a a sair? Liberto-a
de si própria; e ao vesti-la com um manto
de orquídeas, espero que pegue no leque,
para o abrir e fazer voar as pétalas
da vida por entre o som do cravo
que ecoa nos corredores
da sua memória.
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